domingo, 28 de junho de 2009

[45] A última imagem, o adeus...

Durante o nosso ultimo almoço aqui na fábrica, disse-lhe que ia chover. Era um sinal que o tempo estava triste pela partida dela. Dito e certo, fui terminar o almoço, abrir a porta para nos sairmos e vemos os dois juntos no meio da chuva. Tempo quente como a nossa relação, a chuva como tristeza, parecia um sinal dos deuses.

Não consegui ter palavras para me despedir dela, por mais treinado que estivesse para dizer o que manda a tradição a nível de trabalho. Estava simplesmente anestesiado e confesso para dizer a verdade. Não tinha qualquer tipo de palavras para descrever o que sentia, nem queria demonstrar um pouco sequer. Mas ela percebeu e chamou à despedida, o estilo português de dizer adeus.

Ofereceu-me os cinco parafusos e as duas anilhas que ela tinha junto ao computador que servia para ela se distrair um pouco, enquanto ela tinha que trabalhar arduamente. Nunca ela soube que o número cinco tinha sido no passado o meu número favorito e o número de turma durante os meus tempos de escola até à universidade.

Saiu sozinha do edifício, com o seu casaco castanho e os seus jeans azuis. No ombro direito transportava o computador. Abriu rapidamente a bagageira do carro e o colocou lá. Na mão esquerda estava um ramo de cravos cor-de-rosa com mistura raiada de branco. Colocou-os na parte de trás do lugar do condutor.

Entrou, ligou as luzes, depois os limpa-vidros, sem qualquer tipo de sentimento ligou o carro e começou a manobra de marcha atrás. Pelo menos lugar onde nos chegamos a cinco meses atrás, foi o mesmo caminho inverso que ela vez. Tal como eu farei daqui a um mês, mas a pé. Entre as cortinas, fui o ultimo daqui a vê-la.

Fiquei sozinho entre os nativos. As minhas lágrimas, era a chuva que caia sem parar. O tempo expressava bem o meu sentimento, apesar de eu não conseguir expressar. Este sentimento de sensibilidade português e demasiado sensível em comparação ao alemão.

Soube poucas horas depois, que no outro lado da fronteira não chovia.

[44] Reunião surpresa

Estava aqui esta bela donzela abandonada a sua sorte, alterando uns desenhos em CAD, como se trata-se de tricô. Quando de repente chegam nas tuas costas quatro pessoas. Quatro checos, dois da empresa os outros dois, descobri passados alguns minutos, da empresa de construção. Queriam ver os desenhos que eu tinha feito uns meses antes e que por acaso estava a altera-los por causa de uma porta de não estava no sítio certo. Claro que estava eu a alterar os desenhos, e tudo que estava relacionado por causa daquela maldita porta. Que consegui alterar com completo tudo que eu tinha projectado e as respectivas fases de projecto. Pois que estava porta fez-me que o espaço que tinha para tudo, afinal não tinha espaço para nada. Não tinha espaço para por as caldeiras que eram pedidas.

Sendo o tipo da informática o meu tradutor, rapidamente a reunião se transformou em uma reunião cem por cento checa. Claro que eu próprio já nem ligava. Mas no momento que fiz a proposta de se ir ao local da obra, foi uma maravilha. Se a reunião já era 100% checa, aí passou a 200% checa. Pelo menos saíram das minhas costas. E depois até gostei porque todas as opiniões, das poucas que dei, foram discutidas entre eles e aceites sem que eu dissesse mais alguma palavra. Mais uma vantagem, o pouco que falei em inglês e foi traduzido foi aceite. Afinal o português tem boas ideias, e não estavam a espera disto.

No inicio éramos cinco pessoas, no fim da reunião éramos sete. Só me fizeram um único pedido, para concluir o trabalho que eu estava a fazer o mais depressa possível ate ao final da semana. Ora isto era uma terça-feira a meio da manha. Eu só disse que estava pronto antes da hora da saída e na realidade estava pronto.

Quando o responsável da electrónica disse aos restantes que era engenheiro, o respeito e o medo sobre a minha pessoa elevou-se radicalmente. Afinal o tuga é engenheiro. A razão pela qual tinha conhecimentos muito acima do que estávamos a espera.

Factor surpresa: nunca disse que já tinha trabalhado em direcção de obra, alias, nasci no meio, respiro e transpiro obras.

[43] Portugueses menos dois

Está confirmado quem será o segundo.

Eu fico para fechar a casa. Parece uma triste sina minha, sempre o primeiro a abrir ou o ultimo a fechar. Desta vez a regra não confirmou a excepção.

Agora fico conhecido pelo VIP português. Como eu gosto de gozar com a situação, e não tenho outra hipótese senão gozar. Digo que VIP significa "Very Important Portugueses". Não há nada tão bom como brincar com as palavras.

[42] O Exílio

Cada vez mais chego a conclusão que me encontro num exílio. Não daqueles exílios auto imposto ou mesmo obrigado por questões políticas.

Ultimamente tenho andando a ver a serie O Equador, e dou às vezes por mim, a fazer uma espécie de avaliação entre o personagem Luís Bernardo e a minha pessoa. Porque ambos nos encontramos numa espécie de exílio. Só me pergunto, se entre mim e o principal personagem somos iguais entre nós?

Onde está a minha Anne?

[41] Portugueses: menos um

Dos três portugueses que por aqui existem, este é o primeiro a ir-se embora.

Existe coisa más que realmente detestei agora no fim. O director dele tinha uma proposta para ele ficar aqui mais tempo para implementar e concluir o trabalho. Mas não...o senhor decidiu meter férias e só aparecer no último dia para assinar os papéis. Todo o trabalho que G. tinha feito, desde o inicio. Desde à base de dados que ele criou para implementar o sistema com mais detalhe e mais rápido, será simplesmente deixado a um canto. Sabe-se lá por quanto tempo mais e se alguma vez será usado. Um sistema que já esta a cerca de dois anos para ser implementado, em seis meses por um único homem foi construído os seus alicerces e as suas paredes. Falta o resto o telhado e os acabamentos. Tudo isto será deixado a um canto. Atrasando assim a eficiência económica da empresa. São homens como estes que fazem a diferença, são homens como o director que fazem a ma diferença. Deitar trabalho valioso para o lixo, como se tratasse de papel higiénico depois de usado.

Agora falta saber quem será o próximo a ir-se embora. Serei eu ou não eis a questão...

[40] Onde estão todos?

Dia em grande para alguns. Vai haver uma visita grande de alguem de fora, quem eles sao nao me interresa, nem quero saber. O normal da minha parte. Como o meu trabalho tem sido baixo de zero, hoje decidi vir de jeans e de t-shirt. O mais informal possivel. Geralmente e as sextas-feiras que venho assim (uma especie de protesto nao formal). Como nao me dao trabalho para fazer, vou inventando alguma coisa. Como leitura de livros, por vezes vou olhado para os dois dicionarios que estao em cima da mesa. E se em cima da mesa estivesse as paginas amarelas eu tambem as lia. Isto e o inicio da insanidade, de nada estar a fazer. E estar aqui longe de tudo e de todos para nao fazer nada, mais vale a pena estar em casa. Ai sei que pelo menos vou fazendo alguma coisa, como ler, jogar, estar longas horas na banheira cheia de espuma a beber uma bebida e a fumar um cubano. Estar aqui e estar agarrado a um computar, em que nada aparece para fazer e o que aparece e logo despachado num instante. Despachado com rapidez, qualidade, clareza e perfeicao. As vezes ate rapido demais para os normais padroes daqui.

Nem sequer a minha colega mini-saia esta por ca, so mesmo a P. com as suas tradicionais saias apertadas, com o perfume dela a correr pelo ar no corredor. Nem a voz de Mr. Burns, oico pelos corredores a protestar. Isto de nao ter ninguem com quem falar a minha propria lingua comeca a ser um pesadelo, por vezes dou por mim a esquecer com se a fala. Enquanto isto os passaros la vao ocupado os ninhos e cagando as janelas, ja que ninguem as limpa.

[39] Depois da tempestade a calma

Nas últimas semanas foram de trabalheira daquelas que era tudo para ontem e mesmo assim tinha a seria dúvida se não seria para anteontem. E quando chegava a casa o trabalho não acabava. Fazer o jantar, limpar a casa, e estudar e preparar as coisas para o dia seguinte. Não conseguia desligar. Os representares do estado-maior alemão estava por cá para ver o que se passava e como ia as coisas. E a mim calhou um trabalhito que ninguém queria, claro como voluntario forcado. Deram-me um mes para apresentar alguma coisa, nem que seja um rabisco. Depois de vários pedidos de informações que não tiveram respostas, tive que meter as mãos ao trabalho de uma outra maneira. Se não e de uma maneira e da outra, e lá tive consegui começar. Mas esta tarefa estava complicada, não e que o computador não suportava o processamento exigido. E antes de descobrir que ele não tinha capacidade tive três dias a espera que a rapaziada instalasse o software que precisava. Mas não viram que o computador não tinha capacidade, não viram ou fingiram que não viram. O trabalho para tão bom ou tão não que ninguém queria tocar nele. Enquanto o baixinho e entroncado da informática, instalava o software no novo computador, fiz-lhe uma pequena confissão...o trabalho estava pronto em menos de duas semanas.

Dito e feito, antes dos representantes do estado-maior porem os pés na fabrica, a tarefa estava concluída e com sugestões para discussão para futuras alterações após a implementação do sistema. Bastou uma reunião de menos de vinte minutos para ter o projecto aprovado, ser dado os parabéns e com o convite para visitar umas instalações alemãs.

O sucesso foi tão bom ou tão mau, que os que não quiseram aceitar o trabalho queriam agora uma cópia do projecto. Nem pensar...só quem me deu a tarefa e que tem acesso incondicional ao material que existente. Queriam não queriam? Isto e só para mostrar o que um português vale.

Enquanto estou aqui com uma vontade enorme para dormir aqui na minha secretaria, estão estes gajos aqui atrás de mim a discutir. E conhecendo como já os conheço, nem e necessário conhecer a língua para perceber o que ele estão a dizer, mas o assunto e uma merda e alem de ser uma merda, não tem nexo nenhum. Daqui a menos de 5 minutos estão calados com o focinho colado ao ecrã do computador e a beber café, o típico...Até me apetece olhar para trás e pedir para se calarem porque aqui a alguém que quer dormir!

[38] Mudança de instalações

Já andava a estranhar, que havia qualquer coisa não batia certo. Uma breve discussão e uma planta sobre um escritório novo. Mas como aqui as coisas aqui andam devagar e devagarinho, por isso desconfiei, estranhei mas não liguei. O que fiz de melhor. Mas o andava mesmo a estranhar e que já a três semanas o escritório não era limpo. E a volta do meu caixote do lixo comunitário era só lixo no chão por aspirar.

Chegou sexta-feira, e começo a ver os meus colegas a arrumar as coisas em caixotes. Nem liguei, daqui já espero tudo. Ate que alguém me diz que na próxima segunda-feira vamos mudar de escritório. Vamos para o piso de baixo. Por um lado não sabia se havia de ficar contente ou triste. Primeiro já estava farto deste escritório que parece um forno. Mesmo de inverno com menos onze lá fora, temos que abrir as janelas para que ele não seja tão quente. E o que da bater o sol o dia todo, ter aquecimento central e ar condicionado, se o vi uma vez ligado e mesmo assim foi por um quarto de hora porque alguém reclamou.

[37] Bomba

Mais um mísero dia que quase nada fiz. Passei quase a parte da manha a preparar os ensaios. Só faltava mesmo a ordem final para passar os dois próximos dias a realizar os ensaios. Decido ver o que se passava na montagem dos equipamentos, para não passar tanto tempo na revisão dos procedimentos. Já era tempo em demasia em revisões de procedimentos. Não é que chego ao laboratório e tenho uma das bombas em pleno débito e a verter agua por todos os lados. Com três pessoas a volta dela completamente atrapalhadas sem saber o que fazer. Isto já para não dizer que a área estava quase toda alagada de agua.

O monstro de aço que pesa tanto como um elefante, nem um toque, nem um mero arranhão sequer. Hoje não é dia do monstro perder a virgindade de todos os buracos que possui! Talvez amanha, talvez depois...deixa só a bomba estar a funcionar em normais condições de operação que eu pessoalmente trato do assunto.

No entanto eu continuo a esperar e a desesperar pelos cantos do escritório...

P.S.: Maldita bomba!

[36] A morte de Socas

Socas é o nome do meu canário, alias era…faleceu na passada quinta-feira! Nem sequer um ano tinha. Mas comia tanto, mas tanto que por vezes eu lhe chamava bola de ténis. Não são pelo tamanho que ele estava, mas também por ser amarelo. Adorava este putanheiro, que se farta. Ainda bem que nunca lhe arranjei uma canaria, mais por aviso de pessoas que tinham canários da mesma fonte de origem do meu. Cantavam muito bem, mas mal entra-se um fêmea na gaiola, passavam mais tempo a fornicar e a por ovos do que a cantar. Foi por isso que surgiu o nome de putanheiro.

Ainda me lembro quando ele me chegou lá casa, dentro da gaiola com um plástico a cobrir a gaiola por cima. Mal se tirou o plástico, vejo um canário novo, bastante assustado e algo curioso do local onde estava. Lá lhe dei de comer e durante os três dias seguintes não parou de comer, até que ficou pela primeira vez no formato de bola de ténis. O nome foi a coisa mais estúpida que podia arranjar. Quis um nome de um filósofo, mas nenhum deles me agradava. Pensei em Platão, mas era triste de mais para um canário. Pensei em Sócrates, mas também não. Fazia lembrar o primeiro-ministro! Até que decidi encurtar o nome e ficar…Socas!

O animal comia tanto, mas tanto e sem qualquer tipo de controlo que tive que começar a controlar a ração. Foi o melhor que fiz, porque dias depois de começar a controlar, deu-lhe o primeiro sinal de princípio de ataque cardíaco. Efeitos de excesso de comida. Encontrei quase esticado, no fundo da gaiola a piar de agonia. Lá o consegui salvar dessa vez.

A partir desse dia, passou estar na sala, com a companhia dos humanos. Fazia o que lhe queria e que lhe apetece, especialmente sujar o chão com a comida. Quando parti, para fora do país, todos os dias quando tenho que falar com os meus pais via internet. Aparecia-me aquele bicho amarelo, no canto inferior da janela. Muito quieto, muito silencioso, e muito atento. Parava tudo o que estava a fazer para ouvir a minha voz.

Na quarta-feira começou a ter um comportamento estranho, estava novamente gordo, na quinta-feira de manha estava de pernil esticado. Desta vez não estava lá para o salvar…mas quem o manda comer tanto!

[35] Dia de Ignoração

Nos últimos dias tenho tido seria dificuldades em dormir. Não sei se e desta brusca mudança de temperatura ou do que seja. Só me de lembrar que nesta pequena terra em meio de algures, consegue estar mais quente do que em Portugal, e no mínimo estranho.

Começou logo pela manha, cinco da matina já estava acordado e não consegui dormir mais. Quando finalmente me levanto para ir me arranjar para ir trabalhar, tenho o azar de me assoar, porque o nariz estava entupido e...comecei a sangrar do nariz. Só parou mesmo ao fim de uma hora e com serias dificuldades. Isto para não dizer que só cheguei ao trabalho quase uma hora depois.

Quando ia a sair do prédio, passo por um vizinho que nunca tinha visto ate agora. Saiu da primeira porta do primeiro andar. Um homem bastante forte, com uns olhos azuis muito abertos e sem qualquer tipo de movimento. Tive a estranha sensação de estarem cegos ou devem estar a caminharem para isso. De bengala, de chinelos calcados e de meias brancas. Cumprimentou-me, depois de eu ter cumprimentado, o que me levantou ainda mais dúvidas em relação a sua visão.

Já bastante atrasado, mal saio da porta do prédio, dou de frente com um carrinho de bebe azul. Com um bebe lá dentro mas sem ninguém por perto. Um carrinho de bebe, com um bebe lá dentro e sem ninguém por perto

Na parte de manha enquanto estava a trabalhar, e no outro lado da rua, no outro edifício da fabrica, pode observar durante quase toda a manha, um individuo, que não sei quem e. Só não tinha era o casaco do fato, de resto estava bastante formal, com gravata incluída. De auriculares nos ouvidos. Gesticulava, como se tivesse a falar com alguém mesmo a sua frente e ao mesmo tempo possuía uma caneta numa mão e um pequeno caderno na outra. Estas tecnologias modernas, podem fazer um homem estar ligado ao mundo, mas por vezes acabamos por fazer uma figuras mais ridículas.

Tentei telefonar para uma amiga minha para dar os parabéns e desligou-me o telefone. Só podia estar ainda a dormir para fazer uma coisa dessas. Bem a ultima situação igualzinha a esta que me aconteceu, nunca mais falei com a pessoa. Porque ficou ofendida por ter telefonado para dar os parabéns, parece que interrompi algo (porque estava com o namorado que tinha conhecido dias antes). Por isso estou a começar a ficar tentado a não dar qualquer tipo de parabéns seja a quem for e do que for. E mais saudável para todos.

Neste estranho dia o melhor que tenho a fazer e fazer o meu trabalho e ignorar o que se passa a minha volta, e saudável. Alias quantas pessoas já comecei a ignorar? Muitas, mas mesmo muitas, so espero que não tenha magoado alguém que não merecia.